Thursday, October 04, 2007

Sobra Descartes, falta von Bertalanffy

No caderno mais! da Folha de São Paulo do dia 29 de julho de 2007, Renato Mezan, colunista da Folha, publicou um artigo com o título "Falta Descartes, sobra Maria Antonieta", para discutir a crise aérea no Brasil e de como as ações do governo federal seriam orientadas por um "pensamento mágico", que suprimiria o planejamento. Não me interessa discutir aqui a crise aérea (o que pretendo fazer, de uma perspectiva sistêmica, em outro local), mas o argumento de que estaria "faltando Descartes" na administração pública federal. Para Mezan, o conselho de Descartes de dividir as dificuldades em tantas partes quantas fossem necessárias e solucioná-las indo das mais simples às mais complexas, não faria parte das referências dos nossos atuais governantes. Pois para mim, é exatamente o contrário: governantes tendem a dividir em demasia as dificuldades, perdendo com isso o controle da situação. O próprio Mezan se contradiz ao afirmar que "a administração pública teria se transformado em uma colcha de retalhos". Ora, o que é uma colcha de retalhos senão o produto de muitas partes reunidas de qualquer jeito? (talvez a colcha de retalhos possa mesmo ser usada como metáfora para o que se transformou a administração pública). Como discuti em um outro post ["Governo Lula; um exemplo de falha sistêmica?"] neste blog [em 11 de junho deste ano], "o modelo mental de governar mais comum entre nós é do tipo comando e controle que, no exercício do poder, se manifesta pela pulverização dos problemas e também das próprias instituições". E é este modelo mental de governar, seguramente inspirado [quase sempre inconscientemente] em Descartes, que torna os governantes incapazes de lidar com as consequências indesejadas [...]. Portanto, não falta Descartes. Descartes está sobrando. O que falta mesmo, é von Bertalanffy!

No comments: