Thursday, March 17, 2016

Quando a crise não é uma oportunidade

É bastante conhecida (e batida) a afirmação de que uma crise é sempre uma oportunidade (de mudança? de melhoria?). Nessas horas costuma-se até mesmo evocar simbologias orientais para argumentar que crise e oportunidade são complementares, que são aspectos distintos de uma dualidade. É bem possível que isso seja assim em muitas situações, mas não vejo como isso poderia ser "aplicado" para a crise política que o Brasil atravessa, sobretudo depois dos acontecimentos de ontem (16 de março). Frente ao que se está vendo, que oportunidades essa crise poderia encerrar? Para mim, essa crise política é o resultado de uma tremenda falha sistêmica de todos os poderes da República, produzindo uma "mess" (para lembrar Ackoff) sem igual.  Estamos vendo a ação de poderosos ciclos de reforço (feedbacks de reforço) sem que ao mesmo tempo possamos ver, pela ação institucional (do Poder Judiciário, por exemplo), a ação de ciclos de equilíbrio (feedbacks de balanço). Estamos tipicamente diante de uma situação do tipo "bola de neve", e como tal de consequências imprevisíveis. Essa crise também ilustra que o truísmo segundo o qual a política seria a arte do possível, esgotou-se, até porque o possível, da maneira como a nossa classe política o concebe, já não é mais suficiente para resolvê-la. A política precisa transformar-se na arte do impossível, que consiste em tornar possível o aparentemente impossível, como bem disse Ackoff!

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