Neste blog apresento e discuto assuntos relacionados à complexidade e ao pensamento e prática sistêmica, bem como outros assuntos da vida acadêmica e do meu interesse
Thursday, October 11, 2007
Grisha Perelman e a PG brasileira
O que é que Grigori "Grisha" Perelman tem a ver com a PG no Brasil? Depois de ver o resultado da avaliação trienal da CAPES da PG brasileira, só se pode mesmo concluir que Grisha jamais poderia ser professor em algum curso de PG no Brasil. Só para lembrar: Grisha é o matemático russo que, recentemente, solucionou a Conjectura de Poincaré, datada de 1904. O trabalho de Grisha foi considerado pela revista Science em 2006 como o "avanço científico do ano". Mas Grisha, pelos padrões de avaliação da CAPES, certamente não seria credenciado em nenhum Programa de PG (ou então seria por pouco tempo), porque ele certamente não faz parte da "ciência normal" (para lembrar Thomas Kuhn) , e como tal dificilmente teria uma "produção acadêmica consistente", vale dizer, um certo número mínimo de papers por ano (aliás, muito provavelmente nem o "Lattes" ele se daria o trabalho de preencher).
Wednesday, October 10, 2007
Experiência Administrativa
Em tempos de eleição para a escolha do Reitor da UFSC, tenho ouvido muito amiúde que se deveria votar em um determinado candidato porque ele teria "experiência administrativa". Mas o que significa, exatamente, ter "experiência administrativa" em se tratando de uma Universidade? Dado a penúria em que geralmente a Universidade se encontra, significaria isso "experiência em administrar a escassez"? Caso seja isso mesmo, seria isso relevante de um ponto de vista acadêmico, por exemplo? Ou ainda, precisaríamos de um Reitor com perfil acadêmico para encontrar capacidade administrativa para gerir a escassez? Por isso, para mim, a pergunta fundamental é o que significa ter "experiência administrativa" em se tratando de uma Universidade [evidentemente que esta pergunta passa longe da discussão dos candidatos ao posto de Reitor da UFSC]. [continua...]
Monday, October 08, 2007
Entendendo ou lidando (com) a complexidade?
Na edição do dia 7 de outubro, o caderno mais! da Folha de São Paulo reproduz um artigo de Johann Harri publicado no "Independent". O artigo trata de "geoengenharia" para "salvar o mundo do aquecimento global". Já quase no final do artigo, o autor cita o cientista Josh Tosteson que teria perguntado: "Nós temos mesmo a capacidade de entender sistemas complexos bem o suficiente para fazer perturbações conscientes que resultem apenas em consequências desejadas, e nada mais?". Aí está mais uma manifestação inequívoca do ideal de intelegibilidade da mecânica clássica e do desejo de "controlar" os sistemas naturais, a ponto de negar toda possibilidade de ocorrência de consequências indesejadas. Mas o próprio aquecimento global mostra o quanto isso é ilusório, e de quanto precisamos desenvolver competências para aprender a lidar com situações de complexidade. Ou seja, como já escrevi em um artigo publicado no 1º Congresso Brasileiro de Sistemas, "as possibilidades que as práticas sistêmicas oferecem, nos libertam, portanto, do jugo determinista que nos obriga a querer compreender cada vez mais uma situação de complexidade em seus mínimos detalhes para assim melhor controlá-los e manipulá-los. Agora, podemos nos engajar em processos cognitivos mediados por práticas sistêmicas, para aprender a lidar com essas situações percebidas como problemáticas, para as quais não podemos ter a ingenuidade de querer encontrar “soluções”, mas para os quais temos que ter a responsabilidade de procurar promover melhorias". Portanto, em relação à própria geoengeharia e à (inevitável) mudança climática, é preciso parar de querer enxergar nela a "solução" para o aquecimento global, e agir sistemicamente no mundo para criar um futuro mais responsável.
Thursday, October 04, 2007
Sobra Descartes, falta von Bertalanffy
No caderno mais! da Folha de São Paulo do dia 29 de julho de 2007, Renato Mezan, colunista da Folha, publicou um artigo com o título "Falta Descartes, sobra Maria Antonieta", para discutir a crise aérea no Brasil e de como as ações do governo federal seriam orientadas por um "pensamento mágico", que suprimiria o planejamento. Não me interessa discutir aqui a crise aérea (o que pretendo fazer, de uma perspectiva sistêmica, em outro local), mas o argumento de que estaria "faltando Descartes" na administração pública federal. Para Mezan, o conselho de Descartes de dividir as dificuldades em tantas partes quantas fossem necessárias e solucioná-las indo das mais simples às mais complexas, não faria parte das referências dos nossos atuais governantes. Pois para mim, é exatamente o contrário: governantes tendem a dividir em demasia as dificuldades, perdendo com isso o controle da situação. O próprio Mezan se contradiz ao afirmar que "a administração pública teria se transformado em uma colcha de retalhos". Ora, o que é uma colcha de retalhos senão o produto de muitas partes reunidas de qualquer jeito? (talvez a colcha de retalhos possa mesmo ser usada como metáfora para o que se transformou a administração pública). Como discuti em um outro post ["Governo Lula; um exemplo de falha sistêmica?"] neste blog [em 11 de junho deste ano], "o modelo mental de governar mais comum entre nós é do tipo comando e controle que, no exercício do poder, se manifesta pela pulverização dos problemas e também das próprias instituições". E é este modelo mental de governar, seguramente inspirado [quase sempre inconscientemente] em Descartes, que torna os governantes incapazes de lidar com as consequências indesejadas [...]. Portanto, não falta Descartes. Descartes está sobrando. O que falta mesmo, é von Bertalanffy!
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