Friday, December 14, 2007

CPMF e Pensamento Único

Para além da pertinência ou não da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras), o que se (ou)viu nos últimos dias no Brasil, e em particular no Senado Federal, nas discussões que envolviam a prorrogação ou não deste imposto até 2011, chega mesmo ao ridículo. De um lado, os “defensores” do imposto (o Governos e seus aliados), outrora contrários; de outro, os seus “criadores” (DEM, PSDB), que agora o rejeitam. Esse “nosso tempo” já recebeu todas as denominações possíveis, mas é certo que vivemos uma era de perplexidades. E some-se a isso tudo o que vou chamar de “ditadura do pensamento único”, extremamente reducionista, e influenciado, sobretudo, pelo “economês”. O que se pôde ouvir um dia após a rejeição da prorrogação da CPMF beira ao inacreditável, coisas do tipo “agora R$ 40 bilhões voltarão à economia”, como se fosse possível subtrair alguma coisa dela (mesmo o sistema financeiro, para o qual “drena” grande parte da receita auferida com os impostos para o pagamento do superávit primário, também faz parte da economia...). Além disso, ao se propor que o Estado deva agora fazer os cortes necessários levando em conta a diminuição de receita, a exemplo do que se faria na iniciativa privada, finge-se ignorar por completo que o Estado (republicano, sobretudo) necessariamente tem propósitos muito distintos dos de uma empresa. Enquanto esta em um sistema capitalista visa o lucro, aquele deverá visar o bem-público, a proteção dos menos favorecidos, etc, etc, etc. Em resumo, o que se pôde ouvir nos últimos dias decorre da hegemonia de um pensamento fragmentado, redutor e por isso mesmo conservador (não se está fazendo nenhum juízo de valor), além, é claro, das disputas políticas de sempre em um Estado democrático. Como “remédio” para tudo isso e para esses tempos, resta-me Cioran (em “Breviário de Decomposição”), e é uma pena mesmo que “não haja nas farmácias nada específico contra a existência”.

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