Não participei da EcoPower Conference, realizada de 28 a 30 de novembro no Costão do Santinho, em Florianópolis. O preço da inscrição (R$ 2700,00) era proibitivo. Além disso, como disse-me um dos organizadores da Conferência, tratava-se de um evento empresarial (com patrocínio governamental, é bom lembrar). O aquecimento global virou uma oportunidade de negócio! E um negócio dos grandes. O mercado de carbono, criado com o protocolo de Kyoto, é quase nada comparado com as oportunidades de negócio vislumbradas com a exploração de energias renováveis. Mas como nos lembrava Einstein, para resolvermos um problema é preciso usar um conhecimento diferente daquele responsável pelo seu surgimento, e é exatamente isso que a mercantilização do aquecimento global pretende ignorar. Pretende-se ignorar que o aquecimento global está associado à sociedade industrial e seus instrumentos de mercado, e fazer crer de que agora através desses mesmos instrumentos se poderia resolver o problema. Insiste-se em maximizar os ganhos do presente, ao invés de minimizar o arrependimento futuro.
A Ecopower Conference perdeu também a oportunidade de dar exemplo na redução da emissão de gases de efeito estufa. O que se viu foi um esbanjamento de emissões. Como me disse o mesmo organizador da conferência, as principais autoridades seriam transportadas do aeroporto de Florianópolis até o hotel da conferência, de helicóptero. Mas por que não fazê-lo usando um carro flex, movido a álcool, e que coloca o Brasil na vanguarda da utilização de energias renováveis? Sem contar nas emissões dos vôos transcontinentais que trouxeram muitos palestrantes. Aliás, um conferencista chegou a dizer em uma entrevista, que uma maneira de reduzir as emissões seria viajar menos e utilizar mais a videoconferência!
Por tudo isso, a mercantilização do aquecimento global desvia, intencionalmente ou não, o foco do problema, e enquanto o aquecimento global for tratado como um negócio (para poucos), não teremos como estabelecer uma nova ética para o mundo no uso de recursos naturais. Já na década de 1970, o economista Georgescu-Roegen apontava para isso ao discutir os limites do uso renovável desses recursos. A propósito, não é de hoje que o meio ambiente em Florianópolis é tratado como um negócio. A “operação moeda verde” que o diga!
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