De tudo que li durante este ano, o texto que mais me emocionou foi, sem dúvida, o discurso que Saramago proferiu ao receber o Nobel de Literatura. O discurso leva por título "De como a personagem foi mestre e o autor seu aprendiz", que começa assim: "O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever. Às quatro da madrugada, quando a promessa de um novo dia ainda vinha em terras de França, levantava-se da enxerga e saía para o campo, levando ao pasto a meia dúzia de porcas de cuja fertilidade se alimentavam ele e a mulher. Viviam desta escassez os meus avós maternos, da pequena criação de porcos que, depois do desmame, eram vendidos aos vizinhos da aldeia, Azinhaga de seu nome, na província do Ribatejo. Chamavam-se Jerónimo Melrinho e Josefa Caixinha esses avós, e eram analfabetos um e outro."[...]"...e este foi o meu avô Jerónimo, pastor e contador de histórias, que, ao pressentir que a morte o vinha buscar, foi despedir-se das árvores do seu quintal, uma por uma, abraçando-se a elas e chorando porque sabia que não as tornaria a ver". O discurso completo pode ser lido em
http://nobelprize.org/nobel_prizes/literature/laureates/1998/lecture-p.html
Neste blog apresento e discuto assuntos relacionados à complexidade e ao pensamento e prática sistêmica, bem como outros assuntos da vida acadêmica e do meu interesse
Tuesday, December 18, 2007
Quando a gestão ignora efeitos sistêmicos
Simon Caulkin, na edição do dia 25 de novembro do The Observer, faz um interessante diagnóstico da causa dos problemas de gestão no Reino Unido, e lembra Russel Ackoff, para quem "os problemas nas organizações são quase sempre o produto de interações de partes, e nunca a ação de uma parte única". O artigo completo pode ser lido em:
http://www.guardian.co.uk/business/2007/nov/25/scamsandfraud.businessandmedia
http://www.guardian.co.uk/business/2007/nov/25/scamsandfraud.businessandmedia
Friday, December 14, 2007
CPMF e Pensamento Único
Para além da pertinência ou não da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras), o que se (ou)viu nos últimos dias no Brasil, e em particular no Senado Federal, nas discussões que envolviam a prorrogação ou não deste imposto até 2011, chega mesmo ao ridículo. De um lado, os “defensores” do imposto (o Governos e seus aliados), outrora contrários; de outro, os seus “criadores” (DEM, PSDB), que agora o rejeitam. Esse “nosso tempo” já recebeu todas as denominações possíveis, mas é certo que vivemos uma era de perplexidades. E some-se a isso tudo o que vou chamar de “ditadura do pensamento único”, extremamente reducionista, e influenciado, sobretudo, pelo “economês”. O que se pôde ouvir um dia após a rejeição da prorrogação da CPMF beira ao inacreditável, coisas do tipo “agora R$ 40 bilhões voltarão à economia”, como se fosse possível subtrair alguma coisa dela (mesmo o sistema financeiro, para o qual “drena” grande parte da receita auferida com os impostos para o pagamento do superávit primário, também faz parte da economia...). Além disso, ao se propor que o Estado deva agora fazer os cortes necessários levando em conta a diminuição de receita, a exemplo do que se faria na iniciativa privada, finge-se ignorar por completo que o Estado (republicano, sobretudo) necessariamente tem propósitos muito distintos dos de uma empresa. Enquanto esta em um sistema capitalista visa o lucro, aquele deverá visar o bem-público, a proteção dos menos favorecidos, etc, etc, etc. Em resumo, o que se pôde ouvir nos últimos dias decorre da hegemonia de um pensamento fragmentado, redutor e por isso mesmo conservador (não se está fazendo nenhum juízo de valor), além, é claro, das disputas políticas de sempre em um Estado democrático. Como “remédio” para tudo isso e para esses tempos, resta-me Cioran (em “Breviário de Decomposição”), e é uma pena mesmo que “não haja nas farmácias nada específico contra a existência”.
Friday, December 07, 2007
Tudo é dito por um observador
O que nós vemos das coisas são as coisas.
Por que veríamos nós uma coisa se houvesse outra?
Por que é que ver e ouvir seria iludirmo-nos
Se ver e ouvir são ver e ouvir?
O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa.
Mas isso (tristes de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender
E uma sequestração na liberdade daquele convento
De que os poetas dizem que as estrelas são as freiras eternas
E as flores as penitentes convictas de um só dia,
Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas
Nem as flores senão flores,
Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e flores.
Fernando Pessoa
(poema XXIV de "O Guardador de
Rebanhos", segundo "Alberto Caeiro")
Por que veríamos nós uma coisa se houvesse outra?
Por que é que ver e ouvir seria iludirmo-nos
Se ver e ouvir são ver e ouvir?
O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa.
Mas isso (tristes de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender
E uma sequestração na liberdade daquele convento
De que os poetas dizem que as estrelas são as freiras eternas
E as flores as penitentes convictas de um só dia,
Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas
Nem as flores senão flores,
Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e flores.
Fernando Pessoa
(poema XXIV de "O Guardador de
Rebanhos", segundo "Alberto Caeiro")
Thursday, December 06, 2007
Flaubert e eu
Com a proximidade do fim de ano, e a pressão permanente para publicar, peço licença a Flaubert e faço minhas suas palavras:
"Estou mais cansado do que se empurrasse montanhas. Há momentos em que tenho vontade de chorar. É preciso uma vontade sobre-humana para escrever e eu sou apenas um homem.[...] E qual o fim de tudo isto? O resultado? Amarguras, humilhações internas, nada em que se amparar a não ser a ferocidade de uma fantasia indomável"
"Estou mais cansado do que se empurrasse montanhas. Há momentos em que tenho vontade de chorar. É preciso uma vontade sobre-humana para escrever e eu sou apenas um homem.[...] E qual o fim de tudo isto? O resultado? Amarguras, humilhações internas, nada em que se amparar a não ser a ferocidade de uma fantasia indomável"
Monday, December 03, 2007
EcoPower e aquecimento global
Não participei da EcoPower Conference, realizada de 28 a 30 de novembro no Costão do Santinho, em Florianópolis. O preço da inscrição (R$ 2700,00) era proibitivo. Além disso, como disse-me um dos organizadores da Conferência, tratava-se de um evento empresarial (com patrocínio governamental, é bom lembrar). O aquecimento global virou uma oportunidade de negócio! E um negócio dos grandes. O mercado de carbono, criado com o protocolo de Kyoto, é quase nada comparado com as oportunidades de negócio vislumbradas com a exploração de energias renováveis. Mas como nos lembrava Einstein, para resolvermos um problema é preciso usar um conhecimento diferente daquele responsável pelo seu surgimento, e é exatamente isso que a mercantilização do aquecimento global pretende ignorar. Pretende-se ignorar que o aquecimento global está associado à sociedade industrial e seus instrumentos de mercado, e fazer crer de que agora através desses mesmos instrumentos se poderia resolver o problema. Insiste-se em maximizar os ganhos do presente, ao invés de minimizar o arrependimento futuro.
A Ecopower Conference perdeu também a oportunidade de dar exemplo na redução da emissão de gases de efeito estufa. O que se viu foi um esbanjamento de emissões. Como me disse o mesmo organizador da conferência, as principais autoridades seriam transportadas do aeroporto de Florianópolis até o hotel da conferência, de helicóptero. Mas por que não fazê-lo usando um carro flex, movido a álcool, e que coloca o Brasil na vanguarda da utilização de energias renováveis? Sem contar nas emissões dos vôos transcontinentais que trouxeram muitos palestrantes. Aliás, um conferencista chegou a dizer em uma entrevista, que uma maneira de reduzir as emissões seria viajar menos e utilizar mais a videoconferência!
Por tudo isso, a mercantilização do aquecimento global desvia, intencionalmente ou não, o foco do problema, e enquanto o aquecimento global for tratado como um negócio (para poucos), não teremos como estabelecer uma nova ética para o mundo no uso de recursos naturais. Já na década de 1970, o economista Georgescu-Roegen apontava para isso ao discutir os limites do uso renovável desses recursos. A propósito, não é de hoje que o meio ambiente em Florianópolis é tratado como um negócio. A “operação moeda verde” que o diga!
A Ecopower Conference perdeu também a oportunidade de dar exemplo na redução da emissão de gases de efeito estufa. O que se viu foi um esbanjamento de emissões. Como me disse o mesmo organizador da conferência, as principais autoridades seriam transportadas do aeroporto de Florianópolis até o hotel da conferência, de helicóptero. Mas por que não fazê-lo usando um carro flex, movido a álcool, e que coloca o Brasil na vanguarda da utilização de energias renováveis? Sem contar nas emissões dos vôos transcontinentais que trouxeram muitos palestrantes. Aliás, um conferencista chegou a dizer em uma entrevista, que uma maneira de reduzir as emissões seria viajar menos e utilizar mais a videoconferência!
Por tudo isso, a mercantilização do aquecimento global desvia, intencionalmente ou não, o foco do problema, e enquanto o aquecimento global for tratado como um negócio (para poucos), não teremos como estabelecer uma nova ética para o mundo no uso de recursos naturais. Já na década de 1970, o economista Georgescu-Roegen apontava para isso ao discutir os limites do uso renovável desses recursos. A propósito, não é de hoje que o meio ambiente em Florianópolis é tratado como um negócio. A “operação moeda verde” que o diga!
Tuesday, November 27, 2007
O tempo profundo da geologia
Se não me engano, foi John McPhee quem cunhou a expressão "tempo profundo" para designar a dimensão do tempo geológico, um tempo que, medido em bilhões e milhões de anos, foge à nossa compreensão. As duas fotos foram tiradas em 24 de novembro nos cânions da Fortaleza e do Itaimbezinho, respectivamente, situados na divisa dos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul (borda sudeste da Bacia do Paraná). Essas magníficas escarpas basálticas de até 800m de altura, assentadas sobre arenitos do grande deserto Botucatu, são testemunhas de processos que só podem ser compreendidos mesmo à luz do "tempo profundo". Essas escarpas fazem parte da "certidão de nascimento" do continente sul-americano, há aproximadamente 120 milhões de anos, no Mesozóico, quando o oceano atlântico, que hoje não está muito distante das mesmas, começou a ser formado a partir da fragmentação do supercontinente Gondwana, nos separando para sempre (?), lenta e constantemente, do continente africano (maiores detalhes geológicos podem ser encontrados em http://www.cprm.gov.br/Aparados/ap_geol_pag01.htm).
Thursday, November 08, 2007
III Congresso Brasileiro e I Congresso Catarinense de Sistemas
O III Congresso Brasileiro e I Congressso Catarinense de Sistemas contou com 75 participantes inscritos, oriundos de 8 estados brasileiros (Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins), além do Distrito Federal. Nos Anais do Congresso estão publicados 45 trabalhos, o que aponta para um crescente interesse pelo assunto no Brasil. Neste Congresso, a programação prevista foi cumprida integralmente. No encerramento do Congresso foi anunciado que a Uni-FACEF, de Franca (SP), sediará nos dias 28 e 29 de outubro de 2008 o IV Congresso Brasileiro de Sistemas. Na mesma oportunidade também foi anunciado que o Programa de Pós-Graduação em Agroecossistemas da Universidade Federal de Sergipe, em Aracaju, manifestou interesse de realizar o V Congresso Brasileiro de Sistemas.
Concluído o Congresso, é oportuno fazer uma avaliação...(continua)
Monday, November 05, 2007
Realizado III Congresso Brasileiro e I Congresso Catarinense de Sistemas
Nos dias 24 e 25 de outubro, foi realizado no Hotel Maria do Mar, em Florianópolis (SC), o III Congresso Brasileiro e o I Congresso Catarinense de Sistemas. O tema geral dos congressos era "Prática Sistêmica em Situações de Complexidade" .
A seguir reproduzo a minha mensagem de abertura:
"Prezados amigos, prezadas amigas,
“Vivemos, talvez, um momento de transição do padrão civilizatório. Um tempo de perplexidades. A ameaça de desastres climáticos, pandemias e conflitos ético-religiosos, inspira cenários apocalípticos de morte e destruição. Enquanto isso, o processo científico-tecnológico, a criação de uma rede mundial de comunicação, a interação sem precedentes das mais diversas matrizes culturais abrem perspectivas inéditas para o desenvolvimento humano”.
Tomo emprestado estas primeiras palavras do Editorial do primeiro número, de agosto deste ano, da revista Le Monde Diplomatique Brasil. Poderíamos dizer que este cenário bem descreve a situação de complexidade que vivenciamos nos dias de hoje. Ela reúne interdependências, incertezas, controvérsias, múltiplos interesses, e posições extremadas. Diz ainda o mesmo Editorial que “não temos, no Brasil, a tradição de olhar de forma abrangente [eu diria, de forma sistêmica] a conjuntura global. Por isso, mais do que nunca, precisamos de reflexões aprofundadas que instaurem, entre nós, espaços de lucidez”. E é desta perspectiva que se situa este III Congresso Brasileiro e I Congresso Catarinense de Sistemas, cuja temática é Prática Sistêmica em Situações de Complexidade pois, lembrando Bachelard, o simples não existe, só o simplificado. E para Edgar Morin, sistema é a palavra-raiz para a complexidade.
Queremos com este tema e com o seu foco, apontar para a necessidade de melhorar o nosso agir num mundo que percebemos cada vez mais complexo, utilizando para isso um quadro de referência [uma epistemologia] diferente daquele que usualmente empregamos quando queremos lidar com essas situações. Ou seja, é preciso desenvolver competências sistêmicas para aprender a lidar com situações de complexidade. E se ainda não temos entre nós a tradição de olhar de forma abrangente a conjuntura global, ou uma situação de complexidade, precisamos então aprender a olhar sistemicamente o mundo. Mas como dizia Heinz von Förster em um de seus famosos imperativos éticos “se quisermos ver, precisamos aprender a agir”. Pensamento e prática sistêmica formam, assim, uma dualidade horizontal, e se constituem em uma praxiologia, em uma ciência da ação eficiente, para melhorar nossa ação no mundo. Por isso, o praticante sistêmico se vê diante da possibilidade de se libertar do jugo determinista que o obriga a querer compreender cada vez mais uma situação de complexidade em seus mínimos detalhes para assim melhor controlá-la e manipulá-la. Ao invés disso, pode se engajar, através de práticas sistêmicas, com essas situações percebidas como complexas e problemáticas, para aprender a como lidar com elas e para as quais não pode mais ter a ingenuidade de querer encontrar “soluções”, mas para as quais deve ter a responsabilidade de procurar promover melhorias.
Para tratar da temática deste III Congresso Brasileiro e I Congresso Catarinense de Sistemas [que trata de prática sistêmica e complexidade] convidamos renomados professores que há muito tempo trabalham com pensamento sistêmico, prática sistêmica, cibernética e complexidade, e que são referências em suas áreas. Ficamos muito honrados de poder contar neste congresso com a presença da Profa. Maria José Esteves de Vasconcellos, e dos Professores Markus Schwaninger, Ion Georgiou, Acyr Seleme e Dante Pinheiro Martinelli, que organizou os dois primeiros congressos brasileiros de sistemas.
Organizar e sediar um Congresso, não seria possível sem a decisiva participação e colaboração de muitas pessoas e instituições. Por isso, quero desde já agradecer a todos os integrantes da Comissão Organizadora [aos meus colegas Alfredo Fantini, Luiz Renato D’Agostini, Sergio Pinheiro e Sergio Martins, às estudantes Andréa Hoffmann e Giane Nunes e aos estudantes Luiz Alejandro Gutiérrez e Luis Freitas], assim como ao Prof. Dante Pinheiro Martinelli. Em nome da Comissão Organizadora quero agradecer também ao CNPq, à Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina (FAPESC), ao CREA-SC, ao CCA-UFSC, ao Sindicato dos Eng. Agr. de Santa Catarina (SEAGRO), ao Centro Universitário de Franca (Uni-FACEF), à Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de SC (EPAGRI) e à Editora Atlas. Sem o apoio financeiro e institucional destas instituições, não teria sido possível realizar este Congresso.
Para terminar, quero lembrar uma vez mais Heinz von Förster que, em um outro imperativo ético, nos lembra que “devemos agir sempre de modo a aumentar o número de possibilidades”. Que este congresso possa nos ajudar a aumentar o número de possibilidades no mundo em que vivemos e construímos, e que se constitua também, pelo nosso agir, em um espaço de lucidez para aprendermos a lidar com situações de complexidade.
Sejam todos muito bem-vindos! Sintam-se em casa! É um prazer e uma honra poder recebê-los.
Muito obrigado!
Sandro Luis Schlindwein
Presidente da Comissão Organizadora
Florianópolis, 24 de outubro de 2007."
"Prezados amigos, prezadas amigas,
“Vivemos, talvez, um momento de transição do padrão civilizatório. Um tempo de perplexidades. A ameaça de desastres climáticos, pandemias e conflitos ético-religiosos, inspira cenários apocalípticos de morte e destruição. Enquanto isso, o processo científico-tecnológico, a criação de uma rede mundial de comunicação, a interação sem precedentes das mais diversas matrizes culturais abrem perspectivas inéditas para o desenvolvimento humano”.
Tomo emprestado estas primeiras palavras do Editorial do primeiro número, de agosto deste ano, da revista Le Monde Diplomatique Brasil. Poderíamos dizer que este cenário bem descreve a situação de complexidade que vivenciamos nos dias de hoje. Ela reúne interdependências, incertezas, controvérsias, múltiplos interesses, e posições extremadas. Diz ainda o mesmo Editorial que “não temos, no Brasil, a tradição de olhar de forma abrangente [eu diria, de forma sistêmica] a conjuntura global. Por isso, mais do que nunca, precisamos de reflexões aprofundadas que instaurem, entre nós, espaços de lucidez”. E é desta perspectiva que se situa este III Congresso Brasileiro e I Congresso Catarinense de Sistemas, cuja temática é Prática Sistêmica em Situações de Complexidade pois, lembrando Bachelard, o simples não existe, só o simplificado. E para Edgar Morin, sistema é a palavra-raiz para a complexidade.
Queremos com este tema e com o seu foco, apontar para a necessidade de melhorar o nosso agir num mundo que percebemos cada vez mais complexo, utilizando para isso um quadro de referência [uma epistemologia] diferente daquele que usualmente empregamos quando queremos lidar com essas situações. Ou seja, é preciso desenvolver competências sistêmicas para aprender a lidar com situações de complexidade. E se ainda não temos entre nós a tradição de olhar de forma abrangente a conjuntura global, ou uma situação de complexidade, precisamos então aprender a olhar sistemicamente o mundo. Mas como dizia Heinz von Förster em um de seus famosos imperativos éticos “se quisermos ver, precisamos aprender a agir”. Pensamento e prática sistêmica formam, assim, uma dualidade horizontal, e se constituem em uma praxiologia, em uma ciência da ação eficiente, para melhorar nossa ação no mundo. Por isso, o praticante sistêmico se vê diante da possibilidade de se libertar do jugo determinista que o obriga a querer compreender cada vez mais uma situação de complexidade em seus mínimos detalhes para assim melhor controlá-la e manipulá-la. Ao invés disso, pode se engajar, através de práticas sistêmicas, com essas situações percebidas como complexas e problemáticas, para aprender a como lidar com elas e para as quais não pode mais ter a ingenuidade de querer encontrar “soluções”, mas para as quais deve ter a responsabilidade de procurar promover melhorias.
Para tratar da temática deste III Congresso Brasileiro e I Congresso Catarinense de Sistemas [que trata de prática sistêmica e complexidade] convidamos renomados professores que há muito tempo trabalham com pensamento sistêmico, prática sistêmica, cibernética e complexidade, e que são referências em suas áreas. Ficamos muito honrados de poder contar neste congresso com a presença da Profa. Maria José Esteves de Vasconcellos, e dos Professores Markus Schwaninger, Ion Georgiou, Acyr Seleme e Dante Pinheiro Martinelli, que organizou os dois primeiros congressos brasileiros de sistemas.
Organizar e sediar um Congresso, não seria possível sem a decisiva participação e colaboração de muitas pessoas e instituições. Por isso, quero desde já agradecer a todos os integrantes da Comissão Organizadora [aos meus colegas Alfredo Fantini, Luiz Renato D’Agostini, Sergio Pinheiro e Sergio Martins, às estudantes Andréa Hoffmann e Giane Nunes e aos estudantes Luiz Alejandro Gutiérrez e Luis Freitas], assim como ao Prof. Dante Pinheiro Martinelli. Em nome da Comissão Organizadora quero agradecer também ao CNPq, à Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina (FAPESC), ao CREA-SC, ao CCA-UFSC, ao Sindicato dos Eng. Agr. de Santa Catarina (SEAGRO), ao Centro Universitário de Franca (Uni-FACEF), à Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de SC (EPAGRI) e à Editora Atlas. Sem o apoio financeiro e institucional destas instituições, não teria sido possível realizar este Congresso.
Para terminar, quero lembrar uma vez mais Heinz von Förster que, em um outro imperativo ético, nos lembra que “devemos agir sempre de modo a aumentar o número de possibilidades”. Que este congresso possa nos ajudar a aumentar o número de possibilidades no mundo em que vivemos e construímos, e que se constitua também, pelo nosso agir, em um espaço de lucidez para aprendermos a lidar com situações de complexidade.
Sejam todos muito bem-vindos! Sintam-se em casa! É um prazer e uma honra poder recebê-los.
Muito obrigado!
Sandro Luis Schlindwein
Presidente da Comissão Organizadora
Florianópolis, 24 de outubro de 2007."
Outras impressões
Thursday, October 11, 2007
Grisha Perelman e a PG brasileira
O que é que Grigori "Grisha" Perelman tem a ver com a PG no Brasil? Depois de ver o resultado da avaliação trienal da CAPES da PG brasileira, só se pode mesmo concluir que Grisha jamais poderia ser professor em algum curso de PG no Brasil. Só para lembrar: Grisha é o matemático russo que, recentemente, solucionou a Conjectura de Poincaré, datada de 1904. O trabalho de Grisha foi considerado pela revista Science em 2006 como o "avanço científico do ano". Mas Grisha, pelos padrões de avaliação da CAPES, certamente não seria credenciado em nenhum Programa de PG (ou então seria por pouco tempo), porque ele certamente não faz parte da "ciência normal" (para lembrar Thomas Kuhn) , e como tal dificilmente teria uma "produção acadêmica consistente", vale dizer, um certo número mínimo de papers por ano (aliás, muito provavelmente nem o "Lattes" ele se daria o trabalho de preencher).
Wednesday, October 10, 2007
Experiência Administrativa
Em tempos de eleição para a escolha do Reitor da UFSC, tenho ouvido muito amiúde que se deveria votar em um determinado candidato porque ele teria "experiência administrativa". Mas o que significa, exatamente, ter "experiência administrativa" em se tratando de uma Universidade? Dado a penúria em que geralmente a Universidade se encontra, significaria isso "experiência em administrar a escassez"? Caso seja isso mesmo, seria isso relevante de um ponto de vista acadêmico, por exemplo? Ou ainda, precisaríamos de um Reitor com perfil acadêmico para encontrar capacidade administrativa para gerir a escassez? Por isso, para mim, a pergunta fundamental é o que significa ter "experiência administrativa" em se tratando de uma Universidade [evidentemente que esta pergunta passa longe da discussão dos candidatos ao posto de Reitor da UFSC]. [continua...]
Monday, October 08, 2007
Entendendo ou lidando (com) a complexidade?
Na edição do dia 7 de outubro, o caderno mais! da Folha de São Paulo reproduz um artigo de Johann Harri publicado no "Independent". O artigo trata de "geoengenharia" para "salvar o mundo do aquecimento global". Já quase no final do artigo, o autor cita o cientista Josh Tosteson que teria perguntado: "Nós temos mesmo a capacidade de entender sistemas complexos bem o suficiente para fazer perturbações conscientes que resultem apenas em consequências desejadas, e nada mais?". Aí está mais uma manifestação inequívoca do ideal de intelegibilidade da mecânica clássica e do desejo de "controlar" os sistemas naturais, a ponto de negar toda possibilidade de ocorrência de consequências indesejadas. Mas o próprio aquecimento global mostra o quanto isso é ilusório, e de quanto precisamos desenvolver competências para aprender a lidar com situações de complexidade. Ou seja, como já escrevi em um artigo publicado no 1º Congresso Brasileiro de Sistemas, "as possibilidades que as práticas sistêmicas oferecem, nos libertam, portanto, do jugo determinista que nos obriga a querer compreender cada vez mais uma situação de complexidade em seus mínimos detalhes para assim melhor controlá-los e manipulá-los. Agora, podemos nos engajar em processos cognitivos mediados por práticas sistêmicas, para aprender a lidar com essas situações percebidas como problemáticas, para as quais não podemos ter a ingenuidade de querer encontrar “soluções”, mas para os quais temos que ter a responsabilidade de procurar promover melhorias". Portanto, em relação à própria geoengeharia e à (inevitável) mudança climática, é preciso parar de querer enxergar nela a "solução" para o aquecimento global, e agir sistemicamente no mundo para criar um futuro mais responsável.
Thursday, October 04, 2007
Sobra Descartes, falta von Bertalanffy
No caderno mais! da Folha de São Paulo do dia 29 de julho de 2007, Renato Mezan, colunista da Folha, publicou um artigo com o título "Falta Descartes, sobra Maria Antonieta", para discutir a crise aérea no Brasil e de como as ações do governo federal seriam orientadas por um "pensamento mágico", que suprimiria o planejamento. Não me interessa discutir aqui a crise aérea (o que pretendo fazer, de uma perspectiva sistêmica, em outro local), mas o argumento de que estaria "faltando Descartes" na administração pública federal. Para Mezan, o conselho de Descartes de dividir as dificuldades em tantas partes quantas fossem necessárias e solucioná-las indo das mais simples às mais complexas, não faria parte das referências dos nossos atuais governantes. Pois para mim, é exatamente o contrário: governantes tendem a dividir em demasia as dificuldades, perdendo com isso o controle da situação. O próprio Mezan se contradiz ao afirmar que "a administração pública teria se transformado em uma colcha de retalhos". Ora, o que é uma colcha de retalhos senão o produto de muitas partes reunidas de qualquer jeito? (talvez a colcha de retalhos possa mesmo ser usada como metáfora para o que se transformou a administração pública). Como discuti em um outro post ["Governo Lula; um exemplo de falha sistêmica?"] neste blog [em 11 de junho deste ano], "o modelo mental de governar mais comum entre nós é do tipo comando e controle que, no exercício do poder, se manifesta pela pulverização dos problemas e também das próprias instituições". E é este modelo mental de governar, seguramente inspirado [quase sempre inconscientemente] em Descartes, que torna os governantes incapazes de lidar com as consequências indesejadas [...]. Portanto, não falta Descartes. Descartes está sobrando. O que falta mesmo, é von Bertalanffy!
Tuesday, September 25, 2007
Mitos sobre o Pensamento Sistêmico
Enumero a seguir, o que considero serem alguns "mitos" sobre o Pensamento Sistêmico (este assunto deverá ser desenvolvido em um artigo específico):
1. Pensamento sistêmico é recente
2. Pensamento sistêmico é só teoria (e nada prático)
3. Pensamento sistêmico é a mesma coisa que pensamento holístico
4. Pensamento sistêmico é sinônimo de Teoria Geral dos Sistemas
5. Pensamento sistêmico deve substituir pensamento específico
6. Pensamento sistêmico não diz respeito ao estudo de partes
7. Pensamento sistêmico não é científico, e como tal não é rigoroso
8. Pensamento sistêmico se aplica para tudo
1. Pensamento sistêmico é recente
2. Pensamento sistêmico é só teoria (e nada prático)
3. Pensamento sistêmico é a mesma coisa que pensamento holístico
4. Pensamento sistêmico é sinônimo de Teoria Geral dos Sistemas
5. Pensamento sistêmico deve substituir pensamento específico
6. Pensamento sistêmico não diz respeito ao estudo de partes
7. Pensamento sistêmico não é científico, e como tal não é rigoroso
8. Pensamento sistêmico se aplica para tudo
Friday, August 17, 2007
Imersos em uma situação de complexidade, em uma "mess"...
Le Monde Diplomatique Brasil Número 1 Agosto 2007
Editorial – José Tadeu Arantes
"Vivemos, talvez, um momento de transição do padrão civilizatório. Um tempo de perplexidades. A ameaça de desastres climáticos, pandemias e conflitos étnico-religiosos inspira cenários apocalípticos de morte e destruição. Enquanto isso, o processo científico-tecnológico, a criação de uma rede mundial de comunicação, a interação sem precedentes das mais diversas matrizes culturais abrem perspectivas inéditas para o desenvolvimento humano. Como pano de fundo, vemos prolongarem-se assimetrias nas relações entre os países, escandalosas desigualdades no acesso aos bens materiais e culturais pelas diferentes classes, manipulações das consciências pelas grandes corporações da mídia e do entretenimento. Mais do que nunca, precisamos de reflexões aprofundadas que instaurem, entre nós, espaços de lucidez [grifo meu]. Até porque, os discursos fáceis e as fórmulas simplistas, à direita e à esquerda, foram reprovados no teste da prática, evidenciando sua inconsistência. Com o fim da bipolaridade e a obsolescência dos grandes modelos teóricos herdados do século XIX, a intelectualidade encontra-se livre de opressivas camisas-de-força ideológicas – livre para construir novos paradigmas capazes de responder aos desafios do presente [...]"
Editorial – José Tadeu Arantes
"Vivemos, talvez, um momento de transição do padrão civilizatório. Um tempo de perplexidades. A ameaça de desastres climáticos, pandemias e conflitos étnico-religiosos inspira cenários apocalípticos de morte e destruição. Enquanto isso, o processo científico-tecnológico, a criação de uma rede mundial de comunicação, a interação sem precedentes das mais diversas matrizes culturais abrem perspectivas inéditas para o desenvolvimento humano. Como pano de fundo, vemos prolongarem-se assimetrias nas relações entre os países, escandalosas desigualdades no acesso aos bens materiais e culturais pelas diferentes classes, manipulações das consciências pelas grandes corporações da mídia e do entretenimento. Mais do que nunca, precisamos de reflexões aprofundadas que instaurem, entre nós, espaços de lucidez [grifo meu]. Até porque, os discursos fáceis e as fórmulas simplistas, à direita e à esquerda, foram reprovados no teste da prática, evidenciando sua inconsistência. Com o fim da bipolaridade e a obsolescência dos grandes modelos teóricos herdados do século XIX, a intelectualidade encontra-se livre de opressivas camisas-de-força ideológicas – livre para construir novos paradigmas capazes de responder aos desafios do presente [...]"
Tuesday, July 31, 2007
A poética do intemperismo no estio
Intemperismo físico na visão poética de Euclides da Cunha em "Os Sertões"...
"[...]. De um lado a extrema secura dos ares, no estio, facilitando pela irradiação noturna a perda instantânea do calor absorvido pelas rochas expostas às soalheiras, impõe-lhes a alternativa de alturas e quedas termométricas repentinas; e daí um jogar de dilatações e contrações que as disjunge, abrindo-as segundo os planos de menor resistência. De outro, as chuvas que fecham, de improviso, os ciclos adurentes das secas, precipitam estas reações demoradas".
"[...]. De um lado a extrema secura dos ares, no estio, facilitando pela irradiação noturna a perda instantânea do calor absorvido pelas rochas expostas às soalheiras, impõe-lhes a alternativa de alturas e quedas termométricas repentinas; e daí um jogar de dilatações e contrações que as disjunge, abrindo-as segundo os planos de menor resistência. De outro, as chuvas que fecham, de improviso, os ciclos adurentes das secas, precipitam estas reações demoradas".
Tuesday, July 24, 2007
O todo e a parte
Reproduzo uma pequena passagem de Pascal que encontrei no último livro de André Comte-Sponville [A vida humana, p. 15]:
“Quando considero a pequena duração de minha vida absorvida na eternidade precedente e seguinte, o pequeno espaço que ocupo ou mesmo que vejo, abismado na infinita imensidão dos espaços que ignoro e que me ignoram, assusto-me e me espanto de me ver aqui e não lá; pois não há razão por que aqui e não lá, por que agora e não então. Quem me pôs aqui? Por ordem e conduta de quem este lugar e este tempo me foram destinados?”
“Quando considero a pequena duração de minha vida absorvida na eternidade precedente e seguinte, o pequeno espaço que ocupo ou mesmo que vejo, abismado na infinita imensidão dos espaços que ignoro e que me ignoram, assusto-me e me espanto de me ver aqui e não lá; pois não há razão por que aqui e não lá, por que agora e não então. Quem me pôs aqui? Por ordem e conduta de quem este lugar e este tempo me foram destinados?”
Monday, July 23, 2007
Transformando o Plano Diretor de Florianópolis
O texto a seguir (de minha autoria) foi publicado na edição de hoje (segunda-feira, dia 30 de julho) do Diário Catarinense, com algumas pequenas modificações. O que pode se ler a seguir corresponde à versão integral do texto, ligeiramente mais longa...
"Depois da “operação moeda verde” em Florianópolis, esperam-se mudanças nas práticas de gestão e de ordenamento (zoneamento) de uso do solo da cidade, e isso só pode ocorrer na medida em que se mude a maneira como se formula (e se altera) o Plano Diretor. É isso que precisa fundamentalmente mudar, já que à exigência da existência de um Plano Diretor, não corresponde, todavia, a exigência de uma única forma de fazê-lo. Comumente, a formulação (e alteração) de um Plano Diretor inscreve-se na forma de governar a cidade. Assim, não é incomum que a forma de governar seja inspirada em um modelo mental do tipo “comando e controle” que, no exercício do poder, manifesta-se pela fragmentação dos problemas, reduzindo a sua complexidade pela divisão em (muitas) partes para melhor comandá-las e controlá-las. Mas este modelo revela-se cada vez mais inapropriado para governar nossas cidades, e Planos Diretores nele orientados são operacionalmente frágeis e sujeitos a todo tipo de alterações casuísticas. Planos Diretores assim formulados passam a falhar sistemicamente e, desta perspectiva, as irregularidades apuradas pela “operação moeda verde” são um sintoma desta falha sistêmica. Portanto, Planos Diretores precisam ser formulados a partir de um outro quadro de referência. Cidades precisam ser percebidas como complexos sistemas de atividades humanas, onde os processos de tomada de decisão não podem mais ser orientados por um modelo do tipo comando-controle, já que as cidades comportam um sistema de problemas interconectados que não podem e não se deixam decompor em problemas mais simples. Portanto, é de uma perspectiva sistêmica que um Plano Diretor precisa ser formulado. E desta perspectiva, um Plano Diretor precisa deixar de ser somente uma sentença do que pode ou não pode ser feito na cidade, sob pena de ser notoriamente efêmero, para se tornar, para o Poder Público e para a Sociedade, um instrumento, uma plataforma duradoura de apoio à tomada de decisão, capaz de permitir a mediação e a acomodação (gestão) de conflitos. Para isso, o Plano Diretor precisa se transformar em um sistema de aprendizagem para a ação efetiva, capaz de lidar com a complexidade, tornando-se, assim, mais apropriado “à ordem da realização democrática” e republicana na cidade."
"Depois da “operação moeda verde” em Florianópolis, esperam-se mudanças nas práticas de gestão e de ordenamento (zoneamento) de uso do solo da cidade, e isso só pode ocorrer na medida em que se mude a maneira como se formula (e se altera) o Plano Diretor. É isso que precisa fundamentalmente mudar, já que à exigência da existência de um Plano Diretor, não corresponde, todavia, a exigência de uma única forma de fazê-lo. Comumente, a formulação (e alteração) de um Plano Diretor inscreve-se na forma de governar a cidade. Assim, não é incomum que a forma de governar seja inspirada em um modelo mental do tipo “comando e controle” que, no exercício do poder, manifesta-se pela fragmentação dos problemas, reduzindo a sua complexidade pela divisão em (muitas) partes para melhor comandá-las e controlá-las. Mas este modelo revela-se cada vez mais inapropriado para governar nossas cidades, e Planos Diretores nele orientados são operacionalmente frágeis e sujeitos a todo tipo de alterações casuísticas. Planos Diretores assim formulados passam a falhar sistemicamente e, desta perspectiva, as irregularidades apuradas pela “operação moeda verde” são um sintoma desta falha sistêmica. Portanto, Planos Diretores precisam ser formulados a partir de um outro quadro de referência. Cidades precisam ser percebidas como complexos sistemas de atividades humanas, onde os processos de tomada de decisão não podem mais ser orientados por um modelo do tipo comando-controle, já que as cidades comportam um sistema de problemas interconectados que não podem e não se deixam decompor em problemas mais simples. Portanto, é de uma perspectiva sistêmica que um Plano Diretor precisa ser formulado. E desta perspectiva, um Plano Diretor precisa deixar de ser somente uma sentença do que pode ou não pode ser feito na cidade, sob pena de ser notoriamente efêmero, para se tornar, para o Poder Público e para a Sociedade, um instrumento, uma plataforma duradoura de apoio à tomada de decisão, capaz de permitir a mediação e a acomodação (gestão) de conflitos. Para isso, o Plano Diretor precisa se transformar em um sistema de aprendizagem para a ação efetiva, capaz de lidar com a complexidade, tornando-se, assim, mais apropriado “à ordem da realização democrática” e republicana na cidade."
Thursday, July 12, 2007
Fronteiras...novamente!
Na Folha de São Paulo do dia 8 de julho de 2007, há uma longa entrevista (pág. A16) com Sérgio Serra, designado embaixador do Brasil para mudanças climáticas. Quando perguntado sobre a opção pela energia nuclear no Brasil, o Sr. Serra afirmou que "como embaixador extraordinário para mudança do clima, eu posso dizer que a energia nuclear não emite CO2". Quais os limites de validade desta afirmação? Certamente depende de como se estabelece a fronteira do sistema de interesse...
Monday, July 02, 2007
Qual é a realidade da realidade?
Recentemente, recebi um exemplar do livro Response Ability, de Frank Fisher (Melbourne: Vista Publications, 2006. 315p.), que reune uma série de artigos deste autor sobre a "construção social da realidade". [...]. No entanto, o "modelo-padrão" (default) é bem diferente deste entendimento, como bem exemplifica a coluna de Marcelo Gleiser no caderno Mais! da Folha de São Paulo do dia 24 de junho (de 2007). No artigo intitulado "A emoção do não-saber", o físico brasileiro, representante de uma tradição epistemológica positivista, afirma que "jamais poderemos ter uma descrição completa da realidade, pelo simples fato de que jamias poderemos vê-la por inteiro. Estamos condenados a uma visão míope do real". Isso é a revelação mais clara da crença segundo a qual o mundo resulta daquilo que se pode medir. Então, note bem, a nossa "miopia" decorre das limitações de nossos órgãos sensorias e de suas extensões - os equipamentos dos cientistas - em medir. É a crença na existência de um mundo objetivo. [...]. Mas vários outros autores não só apontaram as limitações deste entendimento (desta epistemologia), como demonstraram que a "realidade" do mundo resulta de uma construção, como por exemplo o biólogo chileno Humberto Maturana.
Monday, June 11, 2007
Governo Lula: um exemplo de falha sistêmica?
O texto a seguir foi escrito já há algum tempo, logo depois que surgiram as primeiras denúncias da existência de um "mensalão" no Congresso Nacional, durante o primeiro governo Lula.
As denúncias de corrupção no Governo Lula, para além de seus possíveis desdobramentos políticos, tem atraído as atenções da política, da mídia e da opinião pública, e ajudam a reforçar na população um sentimento de que os governos são notoriamente incapazes de lidar com os [reais] problemas do País, e incapazes de cumprir metas e de atender os reclames básicos da população. Em relação à corrupção, certamente não se pode ignorar que ela existe desde que há política, e de que talvez faça mesmo parte do jogo político. Mas ainda que não seja razoável desconsiderar o papel da política em tudo o que está acontecendo, ela só não é suficiente para entender a complexidade da situação, sob pena de se adotar uma abordagem reducionista ou de se oferecer mais uma explicação de validade duvidosa. Por isso, pretende-se situar a emergência da corrupção e da ineficiência governamental num outro quadro de referência e percebê-las, juntamente com o momento político atual, como uma possível manifestação de uma falha sistêmica.
De modo geral, governos esposam um modelo mental que os orientam tanto na formulação de políticas públicas quanto no processo de tomada de decisão, e o esposam com tamanha fidelidade que chegam mesmo a dele tornarem-se reféns. Talvez porque somos herdeiros de uma tradição ocidental de pensamento, o modelo mental de governar mais comum entre nós é do tipo comando e controle que, no exercício do poder, se manifesta pela pulverização dos problemas e também das próprias instituições. Politicamente, este modelo mental não raramente se manifesta através do loteamento de cargos e funções. Apoiados neste modelo, os governos reduzem a inerente complexidade das situações-problema com as quais têm que lidar, dividindo-as em partes para supostamente melhor comandá-las e controlá-las. Este modelo mental deixa-se traduzir exemplarmente pela metáfora de máquina, cujas partes, assim se crê, podem ser independentemente comandadas e controladas na busca de um objetivo. Mas como se sabe, organizações costumam falhar em seu desempenho como um todo quando as partes são comandadas independentemente umas das outras. Portanto, não deixa de ser curioso assinalar que freqüentemente se usa a expressão “máquina estatal” exatamente para caracterizar não só sua inércia como também sua ineficiência. Governos, porém, têm que lidar com conjuntos de problemas interconectados, que não deixam se decompor em problemas mais simples. Por isso, o modelo comando e controle revela-se cada vez mais incapaz e inapropriado para gerir as situações de complexidade [segurança pública, saúde, educação, emprego, etc.] com as quais os governos se defrontam, e para dar conta dos desafios impostos pelos ambientes nos quais os governos operam.
Portanto, o que se vê mais uma vez agora como corrupção pode ser tomado como uma manifestação de uma grave falha sistêmica. Sistêmica, é importante destacar, não porque ela possa estar “irrigando todos os Poderes”, como aponta o Professor Giannotti (Mais!, 26/06/05) e, assim, disseminada por todo “o sistema” como muito tem-se ouvido dizer nestas últimas semanas, mas porque resulta sistemicamente da incapacidade de gerir as conseqüências indesejadas de um sistema de governo baseado na eficiência das partes e do seu controle, com nenhuma atenção ao ambiente do qual este sistema de governo se distingue. Assim é que mesmo políticas públicas consideradas boas, baseadas em valores fortes e práticas idôneas [Fome Zero, Primeiro Emprego, etc] são difíceis de serem executadas e acabam por apresentar resultados muito aquém dos esperados, promovendo grandes desapontamentos.
Além disso, o modelo comando e controle tende a tratar as pessoas de maneira instrumental, admitindo que seria possível controlar o comportamento das mesmas, subestimando a interconectividade entre pessoas e eventos e todas as suas implicações [a CPMI dos Correios revela exemplarmente o que pode acontecer quando esta interconectividade é subestimada].
Falhas sistêmicas somente podem ser superadas adotando-se um modelo mental distinto daquele que as fez surgir, caso contrário suas manifestações, como a corrupção, podem reforçar ainda mais o modelo mental que permitiu seu próprio aparecimento, uma vez que pode se imaginar que para acabar com a corrupção seria necessário ainda mais comando e controle. Por isso, é temeroso pensar que práticas isoladas (como uma reforma do sistema político, p.ex.) por si só seriam suficientes para superar falhas sistêmicas, como as que ocorrem na administração pública. Governar significa literalmente conduzir sistemas de atividade humana complexos, diversos, [em ambientes] essencialmente imprevisíveis, cuja capacidade de aprendizagem não pode ser negligenciada. Portanto, governos têm que aprender a pensar diferente para agir diferente, e precisam encontrar um novo quadro de referência para formular e a implementar políticas públicas, para definir o que pode ser alcançado e quais os meios necessários, o que permitirá, inclusive, adotar uma nova atitude em relação às falhas.
Falhas sistêmicas não resultam somente da má vontade de pessoas e de instituições, mas fundamentalmente da incapacidade de aprendizagem que decorre da adoção de um modelo inapropriado de gestão da complexidade dos sistemas de atividade humana e de seus ambientes. As falhas sistêmicas no Governo Lula precisam tornar-se oportunidades de aprendizagem que permitam a construção de futuros mais responsáveis. O modelo mental de comando e controle precisa dar lugar a um modelo mental baseado na aprendizagem. Mas para que isto seja possível, é preciso assumir uma nova atitude e enfrentar o desafio de mudar o modelo mental que orienta a forma de governar. Reformas políticas nem sempre são suficientes, e é preciso mudar não somente as práticas de governo, mas seus próprios objetivos. Ao invés de um sistema de governo é preciso uma forma sistêmica de governar. Mas há que se ter claro também que adotar uma perspectiva sistêmica de governar não é tarefa fácil, pois como já apontava C. West Chuchman, a política é um dos seus principais inimigos. O modelo mental de comando e controle e a sua metáfora de máquina precisam ser substituídos não porque vivemos em uma “época de mudança”, mas porque vivemos “uma mudança de época”.
Em tempo: a ocorrência de falhas sistêmicas em governos não é privilégio do Governo Lula, e pode ser verificada pelo mundo afora, como nos governos Bush, Blair e Sharon, para citar somente alguns deles.
As denúncias de corrupção no Governo Lula, para além de seus possíveis desdobramentos políticos, tem atraído as atenções da política, da mídia e da opinião pública, e ajudam a reforçar na população um sentimento de que os governos são notoriamente incapazes de lidar com os [reais] problemas do País, e incapazes de cumprir metas e de atender os reclames básicos da população. Em relação à corrupção, certamente não se pode ignorar que ela existe desde que há política, e de que talvez faça mesmo parte do jogo político. Mas ainda que não seja razoável desconsiderar o papel da política em tudo o que está acontecendo, ela só não é suficiente para entender a complexidade da situação, sob pena de se adotar uma abordagem reducionista ou de se oferecer mais uma explicação de validade duvidosa. Por isso, pretende-se situar a emergência da corrupção e da ineficiência governamental num outro quadro de referência e percebê-las, juntamente com o momento político atual, como uma possível manifestação de uma falha sistêmica.
De modo geral, governos esposam um modelo mental que os orientam tanto na formulação de políticas públicas quanto no processo de tomada de decisão, e o esposam com tamanha fidelidade que chegam mesmo a dele tornarem-se reféns. Talvez porque somos herdeiros de uma tradição ocidental de pensamento, o modelo mental de governar mais comum entre nós é do tipo comando e controle que, no exercício do poder, se manifesta pela pulverização dos problemas e também das próprias instituições. Politicamente, este modelo mental não raramente se manifesta através do loteamento de cargos e funções. Apoiados neste modelo, os governos reduzem a inerente complexidade das situações-problema com as quais têm que lidar, dividindo-as em partes para supostamente melhor comandá-las e controlá-las. Este modelo mental deixa-se traduzir exemplarmente pela metáfora de máquina, cujas partes, assim se crê, podem ser independentemente comandadas e controladas na busca de um objetivo. Mas como se sabe, organizações costumam falhar em seu desempenho como um todo quando as partes são comandadas independentemente umas das outras. Portanto, não deixa de ser curioso assinalar que freqüentemente se usa a expressão “máquina estatal” exatamente para caracterizar não só sua inércia como também sua ineficiência. Governos, porém, têm que lidar com conjuntos de problemas interconectados, que não deixam se decompor em problemas mais simples. Por isso, o modelo comando e controle revela-se cada vez mais incapaz e inapropriado para gerir as situações de complexidade [segurança pública, saúde, educação, emprego, etc.] com as quais os governos se defrontam, e para dar conta dos desafios impostos pelos ambientes nos quais os governos operam.
Portanto, o que se vê mais uma vez agora como corrupção pode ser tomado como uma manifestação de uma grave falha sistêmica. Sistêmica, é importante destacar, não porque ela possa estar “irrigando todos os Poderes”, como aponta o Professor Giannotti (Mais!, 26/06/05) e, assim, disseminada por todo “o sistema” como muito tem-se ouvido dizer nestas últimas semanas, mas porque resulta sistemicamente da incapacidade de gerir as conseqüências indesejadas de um sistema de governo baseado na eficiência das partes e do seu controle, com nenhuma atenção ao ambiente do qual este sistema de governo se distingue. Assim é que mesmo políticas públicas consideradas boas, baseadas em valores fortes e práticas idôneas [Fome Zero, Primeiro Emprego, etc] são difíceis de serem executadas e acabam por apresentar resultados muito aquém dos esperados, promovendo grandes desapontamentos.
Além disso, o modelo comando e controle tende a tratar as pessoas de maneira instrumental, admitindo que seria possível controlar o comportamento das mesmas, subestimando a interconectividade entre pessoas e eventos e todas as suas implicações [a CPMI dos Correios revela exemplarmente o que pode acontecer quando esta interconectividade é subestimada].
Falhas sistêmicas somente podem ser superadas adotando-se um modelo mental distinto daquele que as fez surgir, caso contrário suas manifestações, como a corrupção, podem reforçar ainda mais o modelo mental que permitiu seu próprio aparecimento, uma vez que pode se imaginar que para acabar com a corrupção seria necessário ainda mais comando e controle. Por isso, é temeroso pensar que práticas isoladas (como uma reforma do sistema político, p.ex.) por si só seriam suficientes para superar falhas sistêmicas, como as que ocorrem na administração pública. Governar significa literalmente conduzir sistemas de atividade humana complexos, diversos, [em ambientes] essencialmente imprevisíveis, cuja capacidade de aprendizagem não pode ser negligenciada. Portanto, governos têm que aprender a pensar diferente para agir diferente, e precisam encontrar um novo quadro de referência para formular e a implementar políticas públicas, para definir o que pode ser alcançado e quais os meios necessários, o que permitirá, inclusive, adotar uma nova atitude em relação às falhas.
Falhas sistêmicas não resultam somente da má vontade de pessoas e de instituições, mas fundamentalmente da incapacidade de aprendizagem que decorre da adoção de um modelo inapropriado de gestão da complexidade dos sistemas de atividade humana e de seus ambientes. As falhas sistêmicas no Governo Lula precisam tornar-se oportunidades de aprendizagem que permitam a construção de futuros mais responsáveis. O modelo mental de comando e controle precisa dar lugar a um modelo mental baseado na aprendizagem. Mas para que isto seja possível, é preciso assumir uma nova atitude e enfrentar o desafio de mudar o modelo mental que orienta a forma de governar. Reformas políticas nem sempre são suficientes, e é preciso mudar não somente as práticas de governo, mas seus próprios objetivos. Ao invés de um sistema de governo é preciso uma forma sistêmica de governar. Mas há que se ter claro também que adotar uma perspectiva sistêmica de governar não é tarefa fácil, pois como já apontava C. West Chuchman, a política é um dos seus principais inimigos. O modelo mental de comando e controle e a sua metáfora de máquina precisam ser substituídos não porque vivemos em uma “época de mudança”, mas porque vivemos “uma mudança de época”.
Em tempo: a ocorrência de falhas sistêmicas em governos não é privilégio do Governo Lula, e pode ser verificada pelo mundo afora, como nos governos Bush, Blair e Sharon, para citar somente alguns deles.
Sunday, May 27, 2007
O Ironman e a suas fronteiras (sistêmicas)
Em sua coluna do dia 27 de maio de 2007 no Diário Catarinense, Cacau Menezes, escrevendo sobre o “Ironman” realizado em Florianópolis, afirma que “um dos pontos mais relevantes de uma prova de Ironman, que será disputado em Floripa neste final de semana, com a ajuda de São Pedro, é a completa ausência [grifos meus] de poluição na prática do esporte: pedalar, nadar e correr a pé, três dos mais saudáveis exercícios, não resultam em qualquer tipo de prejuízo ambiental”. Mas quais serão os limites de validade de uma afirmação como esta? Será que isso é mesmo assim, ou seja, não haveria mesmo poluição em uma prova de Ironman ou na prática de esporte? A natureza da resposta vai depender em grande medida de onde se está colocando a fronteira do sistema de interesse, neste caso a prova de Ironman ou a prática desportiva. Ainda que se aceite que se coloque a fronteira do sistema de interesse (somente) no(a) atleta que participa da prova de Ironman, ainda assim não se pode afirmar que não há poluição. Pense-se somente, por exemplo, nos copos ou embalagens plásticas contendo água e outras soluções que os(as) atletas consumirão durante a competição e que não só resultam de processos industriais poluidores, como ainda implicarão, para a sua correta destinação final, processos dissipadores de energia que geram muitas emissões. Se, porém, expandirmos as fronteiras do sistema de interesse um pouco mais e incluirmos toda a infra-estrutura montada para garantir o bom andamento da prova, facilmente perceberemos que não se pode afirmar que não há poluição. Pelo contrário! O nível de emissões e de recursos mobilizados necessariamente implicará (por simples razões termodinâmicas) em impacto sobre o meio físico (poluição). Imagine-se agora, neste exercício sistêmico, que queiramos expandir ainda mais as fronteiras do nosso sistema de interesse. Poderíamos incluir, por exemplo, o sistema viário e as rodovias nas quais acontecerão as provas de ciclismo e a maratona. Ora, é por demais sabido que estes "equipamentos" implicam em considerável impacto (prejuízo) ambiental para sua construção e manutenção. Pense-se também que, durante a prova, o trânsito ficará congestionado em alguns trechos, aumentando o consumo de combustível dos veículos que estiverem transitando nestes locais naqueles momentos, também contribuindo, assim, para um aumento das emissões de gases tóxicos e do efeito estufa. Além disso, é preciso ainda considerar toda a indústria necessária para a prática destas modalidades de esporte, como a que está envolvida na fabricação de bicicletas, roupas e acessórios esportivos. Se as fronteiras do sistema de interesse forem alocadas de maneira a comportar, ainda, os sistemas de transporte necessários para que os atletas se desloquem até o local da competição, o prejuízo ambiental é considerável, pense-se somente na poluição gerada pelo transporte aéreo, certamente usado por grande parte dos(as) atletas em suas viagens para Florianópolis.
Ainda que certas práticas desportivas, tomadas isoladamente e para atletas individuais possam, de fato, gerar pouca poluição, provas esportivas de grandes proporções, como a prova de Ironman, também são poluidoras, causando prejuízo ambiental. Em outras palavras, não se pode afirmar que mesmo uma prova esportiva não implique em prejuízo ambiental, e muito menos na sua magnitude (que certamente pode ser minimizada), sem que se especifique claramente as fronteiras do sistema de interesse. Como só pode fazer sentido falar em prejuízo ambiental considerando todo o planeta (por razões termodinâmicas que não serão abordadas aqui), não se pode afirmar, portanto, que mesmo as modalidades desportivas como as praticadas em uma etapa de Ironman não sejam poluidoras, ou que não resultem em prejuízo ambiental.
Ainda que certas práticas desportivas, tomadas isoladamente e para atletas individuais possam, de fato, gerar pouca poluição, provas esportivas de grandes proporções, como a prova de Ironman, também são poluidoras, causando prejuízo ambiental. Em outras palavras, não se pode afirmar que mesmo uma prova esportiva não implique em prejuízo ambiental, e muito menos na sua magnitude (que certamente pode ser minimizada), sem que se especifique claramente as fronteiras do sistema de interesse. Como só pode fazer sentido falar em prejuízo ambiental considerando todo o planeta (por razões termodinâmicas que não serão abordadas aqui), não se pode afirmar, portanto, que mesmo as modalidades desportivas como as praticadas em uma etapa de Ironman não sejam poluidoras, ou que não resultem em prejuízo ambiental.
III Congresso Brasileiro de Sistemas - Programação
Dia 24 de outubro de 2007 (quarta-feira)
17:00 – 18:30h:
Inscrições e retirada de material de participantes inscritos
18:30h:
Solenidade de abertura
19:00h:
Conferência de abertura:“Atuando em situações de complexidade: a necessidade de uma abordagem de aprendizagem sistêmica” (Taking action in situations of complexity: the need of a systems learning approach)
Conferencista: Prof. Dr. Peter Checkland - University of Lancaster – UK
20:30h: Coquetel
Dia 25 de outubro de 2007 (quinta-feira)
8:30h:
Conferência:“Formulando Pesquisa e Desenvolvimento rural: uma perspectiva sistêmica” (Designing rural Research & Development: a systems perspective)
Conferencista: Prof. Dr. Ray Ison - Open University – Department of Systems – UK
10:00h: Intervalo Café
10:15h: Sessões temáticas (apresentação de trabalhos)
12:15 – 14:00h: Almoço
14:00h: Sessões temáticas (apresentação de trabalhos)
16:00h: Intervalo café
16:30h
Painel “Pensamento e prática sistêmica no Brasil: repensando o exercício profissional?”
Painelistas: Prof. Dr. Acyr Seleme (UFPR), Prof. Dr. Dante Pinheiro Martinelli (FEA-USP – Ribeirão Preto) Profª. Maria José Esteves de Vasconcellos (UFMG)
18:00h
Encerramento
Em breve entrará no ar a home page do evento
17:00 – 18:30h:
Inscrições e retirada de material de participantes inscritos
18:30h:
Solenidade de abertura
19:00h:
Conferência de abertura:“Atuando em situações de complexidade: a necessidade de uma abordagem de aprendizagem sistêmica” (Taking action in situations of complexity: the need of a systems learning approach)
Conferencista: Prof. Dr. Peter Checkland - University of Lancaster – UK
20:30h: Coquetel
Dia 25 de outubro de 2007 (quinta-feira)
8:30h:
Conferência:“Formulando Pesquisa e Desenvolvimento rural: uma perspectiva sistêmica” (Designing rural Research & Development: a systems perspective)
Conferencista: Prof. Dr. Ray Ison - Open University – Department of Systems – UK
10:00h: Intervalo Café
10:15h: Sessões temáticas (apresentação de trabalhos)
12:15 – 14:00h: Almoço
14:00h: Sessões temáticas (apresentação de trabalhos)
16:00h: Intervalo café
16:30h
Painel “Pensamento e prática sistêmica no Brasil: repensando o exercício profissional?”
Painelistas: Prof. Dr. Acyr Seleme (UFPR), Prof. Dr. Dante Pinheiro Martinelli (FEA-USP – Ribeirão Preto) Profª. Maria José Esteves de Vasconcellos (UFMG)
18:00h
Encerramento
Em breve entrará no ar a home page do evento
Sunday, February 18, 2007
III Congresso Brasileiro de Sistemas
Agora é definitivo: o III Congresso Brasileiro de Sistemas será realizado em Florianópolis, nos dias 24 e 25 de outubro, no Hotel Maria do Mar (em breve, maiores informações).
Sunday, February 11, 2007
Making CONNECTIONS
A revista Nature iniciou (ou retomou) no último dia 25 de janeiro uma série de ensaios sob o título Connections. Pelo que se pode ler no editorial desta edição (na p. 340), a intenção é promover uma mudança de abordagem no desenvolvimento da ciência para o estudo interdisciplinar de sistemas complexos, dinâmicos. Apesar de se poder ler no editorial de que "a deeper insight requires a systems-level approach that seeks to understand interactions and make connections", o que por si só já é um bom começo, a visão que predominará será a visão da Nature... Isso fica bem claro já neste editorial em que se adota como sinônimos expressões como interdisciplinaridade, abordagem sistêmica e abordagem holística...É esperar, e ler para ver...
Monday, January 15, 2007
LOJA (EQUADOR): UMA CIDADE “SISTÊMICA”
Em matéria do caderno Mais! Da Folha de São Paulo, de 14 de janeiro de 2007, intitulada “Cidades Móveis”, sobre crescimento urbano e degradação do meio físico em cidades, é relatado o caso de Loja, uma cidade no Equador que, de um padrão de crescimento desordenado, tão comum em nosso Hemisfério, tornou-se conhecida como “cidade ecológica e saudável”, merecendo, inclusive, reconhecimento internacional através de vários prêmios. Para que Loja pudesse alcançar esta condição, “as medidas foram pontuais (...) mas ao mesmo tempo sistêmicas”. Ainda segundo a matéria, o êxito de Loja nos ensina que “ a visão sobre o todo e não apenas para cada uma das partes pode ser útil para qualquer grande conglomerado urbano do mundo”. A matéria cita ainda que para o diretor de cooperação do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada), apenas um planejamento realmente (sic) sistêmico poderá evitar a imobilidade dos moradores das grandes cidades que hoje já gastam muito tempo de suas vidas nos congestionamentos. [comentar Lei de Ashby]. Não conheço pessoalmente a experiência de Loja, mas é um bom exemplo de como se pode lidar com situações de complexidade adotando pensamento sistêmico. Mas no caso do planejamento urbano de Florianópolis, toda essa discussão passa bem ao largo...
Thursday, January 04, 2007
Ano Novo?
Reféns que somos do tempo, aceitamos com maior ou menor resignação (ou desconhecimento) o calendário Gregoriano, e assim acabamos de celebrar o início de um novo ano ou, sendo um pouco mais pessimista, o fim de mais um ano. Mas anos não começam e terminam... anos apenas continuam! Feliz Ano Velho!
Subscribe to:
Posts (Atom)